quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um fato supracitado.




Eis a minha válvula de escape. Semi- aberta. Permitindo a ligeira passagem de uma matéria. Ela não é líquida. Não é gasosa. Nem sólida. Creio que possua um comportamento irregular. Ora líquida, ora gasosa. Ora sólida. Ora lacônica, ora prolixa. Redundante. Por vezes, todos os estados. Às vezes dual. Intrinsecamente arbitrária... Nunca se sabe...



Certo dia, estava perdida em meus pensamentos... Fitando o horizonte. Mas não o que jazia em minha frente. Vislumbrava algo mais colorido. Estava no meu momento de projeções. Vou explicar o que são as minhas “projeções”. Eu tenho uma teoria. Não tão minha, visto que já existe. E milhares de pessoas no mundo, – ainda assim poucas -, a adotam como uma filosofia de vida.
Segundo a teoria, minha, - nossa -, podemos concretizar todos os nossos pensamentos. É como se em algum lugar seus desejos são registrados e encaminhados. Mas é preciso acreditar neles, acreditando, a priori, em você mesmo, é claro.
E bom, eu estava no meu momento de imaginar. Sim, imaginar. Simplesmente debruçando-me sobre uma multidão de possibilidades. Oportunidades. São tantas. Daí, eu percebo o quão opulento o mundo é. Encaixam-se quase que perfeitamente. “Posso ser tudo.” “E posso ser nada.” Depende do que os meus pensamentos projetam. Para onde me levam. Já disse aqui que palavras é a materialização de tudo – ou quase tudo – que se passa em nossas mentes. É claro que há pessoas que transformam ao oposto estas torrentes de idéias. Deturpam. Por vários motivos... Por não terem a simples capacidade de exercer sua própria franqueza. Ou porque de fato não é conveniente, já que a verdade às vezes torna-se um utensílio empedernido. Laborioso. Que fere. Mas não entremos em pormenores quanto às questões de “verdade genuína”. Voltemos a uma verdade mais agradável. A verdade que criamos para nós antes mesmo de ela se tornar real. Essa verdade doce. Impalpável. Mas conveniente. E quer saber de uma verdade surpreendente? Os pensamentos se materializam muito além do que só palavras. Então, pense. Por mais absurda que pareça a idéia, aceite-a. Imagine. Eu sempre fiz isso. A minha vida toda eu imaginei. Depois vivi. Vivi e imaginei. Sonhava acordada. Ainda o faço. E muito. Mais do que deveria. Outro dia, uma amiga disse-me que sou muito distraída. Que percebo quase nada. Um short. Um comentário. Até mesmo um grito. Este último, provavelmente porque estava de fones de ouvido. Em outro mundo. Quanto aos outros há uma explicação. Eu realmente não observo tudo. Disse a ela o que já disse aqui. “Observo tudo de um pouco. Distraidamente.” Parece-me mais emocionante. “Reparar as cores. Depois os humanos”. Notar o que observam. Mas a maior parte do tempo eu estou imaginando. Projetando-me. Em vários lugares. Em outras histórias. Outras personagens. No fundo, somos todos personagens. Muitas vezes representando. Ou sempre. Se fôssemos aquilo que somos em essência, seríamos estranhos. Seríamos várias facetas em um só instante. Não acredito que isso nos torne menos verdadeiros. Não. Simplesmente não ouso afirmar que somos constantes. Uniformes. Pois entraria em paradoxo com algo que somos irrefutavelmente. Complexos. Assim como nossas mentes e anseios. Estou satisfeita com a minha vida, mas é quase incontrolável a minha necessidade de imaginar. Eu paro para tal. “Licença, vou ler um pouco.” Ligo a caixinha de músicas. A caixinha que me torna hermética. Qual torna tridimensional todas as minhas estórias. Talvez possa parecer que sou um tanto arrogante. Alheia demais. Que não gosto das pessoas. Serei excessivamente sincera. As pessoas são quase como as palavras. As amo e as odeio. São materializações. Somos mil páginas a ler e decodificar. Não obstante, podem tornar-se dissimuladas. E pior, podem jogá-lo em uma teia de mentiras e incitá-lo a fazer parte desta representação, pérfida. Claro, que sou como todos. Não me excluo deste todo. Talvez seja eu quem não é capaz de se esquivar de todas as idiossincrasias destes que se mostram para mim. Absorvo-as? Não sei. Talvez seja uma inegável inabilidade de entendê-las. Porque não me entendo? Provavelmente. Ou simplesmente incapacidade de conter-me. Não amá-las tanto, tornando-me vulnerável. Suscetível a decepções. Desde aí faço da distração as minhas férias de toda a complexidade de que as pessoas são providas. E desta distração veio um labor, contraditório. Agradável. Reflexões. Íntimas e silenciosas. Todas em minha mente cantam em uníssono. Disse “contraditório”, pois há um conceito de distração: “irreflexão, divertimento,” dentre outros. Mas quando cito “distração”, refiro-me a desatenção daquilo que faz parte do externo. Neste momento, eu não noto as cores. Nem as pessoas. Mas sujeito-me a visão dum caminho. Um caminho que percorri. Que percorrerei. Sou uma mera transeunte que procura veredas. Passeio sobre meus pensamentos. Inclino-me sobre as possibilidades supracitadas. E então faço a escolha. Independentemente desta escolha, sei que vale a pena esquecermos um pouco do mundo que nos cerca, e pararmos para fitar o nosso mundo. Talvez assim, tomemos para as nossas vidas, decisões mais sapientes. Não aquelas que seriam as convencionais. As decisões correntes. Não, não, não. Não siga a corrente. Não se prostre diante das dificuldades, elas vêm primeiramente de seu interior. E nunca volte. Sim. Foi pensando todas essas coisas, uma noite antes de dormir, que cheguei a esta conclusão. Seguir em frente é essencial. Já vi muitas pessoas pararem. Nenhuma objeção, contanto que seja uma breve estacionada para uma manutenção oportuna. Mas voltar... Não. Pois a vida é só uma passagem. Fugacíssima. Pois retroceder não é seguir contra a corrente. É simplesmente percorrê-la mais uma vez, inutilmente.

Voltar...  


Por que não voltar?
“Porque eu passei devagar demais por todo esse caminho...”
Por que não voltar?
“Por que já passou...”
“Sigo em frente...”
Por que não voltar?
“Porque as horas não voltam.”
“Porque o ponteiro do relógio pode até passar pelo mesmo ponto duas vezes. Mas ora de dia, ora de noite.”
Porque não voltar?
“Porque já fiz pausas demais... E ainda tenho todo um caminho para seguir em frente.”
Por que não voltar?
“Porque o tempo é incessante.”
Por que não voltar?
“Porque as lágrimas secaram, mas sequer uma voltou.”

“Não posso voltar...”

“Porque meus cabelos não decrescem, minhas rugas enlouquecem, meus olhos enrobustecem, meus cílios envelhecem, minhas unhas entorpecem. E quero retroceder todos os pesares mil vezes sem que estes nunca cessem.”

“Por que não voltar?”

“Porque é rima demais. Porque é repetitivo. E não faz sentido.”


Escutando: John Mayer – “Daughters” etc...

domingo, 26 de abril de 2009

A quintessência da história


"Enfim,
Nu,
Como vim"



e
as
palavras...








Há algumas coisas a mais que eu gostaria de completar aqui. É sobre um post meu. "A história explicada". Aquele parecia um final conveniente. “Enfim, nus, como viemos.” Entretanto, quando o fiz, sabia que eu não havia atingido o meu fito decisivo. O meu objetivo crucial. Havia uma sensação de algo inacabado... um quê de reticências... Mas as deixei subjugadas, pairando no ar por um tempo. Esperando que essas reticências se concretizassem... Então pensei que seria bom citar algumas idéias – que naquele momento ainda não estavam maduras e agora talvez seja o ensejo -. Eu não forço a barra. Eu deixo as palavras me alcançarem. Docilmente. Daí você perguntaria: O que isso tem a ver com o modo como partiremos? Bom, a princípio, nada. Mas as palavras têm tudo a ver com este blog, o qual alcunhei “Enfim, nu, como vim.” Sinceramente, não esperava que as palavras fossem aparecer tão sobejantes. E elas estão aqui por um motivo. O mesmo que já citei, o qual procuramos. Uma corroboração dos fatos da vida. Eu tenho uma sensação muito única quando venho aqui materializar meus pensamentos. É como se fosse uma configuração, um arquivamento de tudo o que se passa em minha mente. E há esse haicai, “Enfim, nu, como vim”. A resposta. Vou lhe dizer o que a morte tem a ver com as palavras. Eu estou aqui, desataviada, com esta carne que me encapa... Sinto-me uma matéria que logo estará a sete palmos e... bem... você e eu sabemos o que acontecerá... não haverá mais carne... roupagem... fútil... seremos aquilo que somos em essência. Nus. E quanto a isso estou segura. Mas sobreviverá algo... perdido... preso em alguma linha, pendurado na ponta duma caneta... no espaço, saindo de uma boca...registradas aqui, estarão as minhas palavras... essas perenes palavras... humildes... bestas... e às vezes, admito, pedantes. Todas fazem parte de mim. Constituem o meu “eu” nu, puro, despido, sem gala e adornos. E por mais ridículas que sejam as minhas palavras, são o que eu mais amo em mim. Palavras, - as "ecoarei" bastante aqui -. É aquilo que eu gostaria que mais se mostrasse em mim mesma. Sei que nem sempre são inteligíveis... Mas quem disse que eu quero ser tão facilmente compreendida? Como uma face tão logo é, decodificada. Bela ou não. Essas palavras herméticas refletem-se neste rosto patético? Eu gosto de traçados, formas, linhas, mas as que formam letras... gestos, expressões que constituem palavras... as prefiro à face que se revela. Que nos engana. Ludibria. Incita a uma ilusão. Eu sou uma face calada... Porém há palavras além da pele que reveste. Desta matéria que se decomporá. As palavras não. Enquanto minha face, um dia, estiver a sete palmos de terra, as minhas palavras, hoje, estão a sete palmos de matéria: Eu. Elas brincam, escondem-se, recolhem-se, e às vezes se mostram veementemente. Confusas, vêm à superfície, penduradas em minha boca. presas em meus olhos, soltas em minha mente. Palavras podem tocar-lhe de alguma forma, os fazem chorar, rir. Enfim, sentir... Ao passo que, a face é só um reflexo. Um figurante. A palavra é protagonista. A face, o corpo sem palavra é nada. É vácuo. Escuridão. Sem som, sem tom, sem texto, sem falas, imóvel, cheio de atavios, mas tão vazio! A palavra é o que completa, verdadeiramente. Não me imagino sem elas. E não se iluda. Refiro-me a todo tipo de palavra. Inclusive àquelas que não são ditas. Inobstante isso, ainda assim, elas estão penduradas nos olhos, subentendidas, suspensas no ar. Faço alusão também às que são ditas e, no entanto, não constroem algo eloqüente. Eu gosto daquelas que cantam, beijam, dançam...
Há as que mentem. Não as condeno. Todos mentimos, afinal. Pura condição humana. Tão forte quanto tão fraca é a carne. As palavras já foram usadas para persuadir todo um povo, na perseverança onírica de se conquistar o mundo. Com ideais que machucaram, mataram. Sim, mataram. Destruíram. Tão grande é o seu poder. É por isso, que há quem as odeie. É por isso que há – principalmente – quem não as mereça... Inegavelmente, porém, elas pertencem a todos. Guerra é uma das conseqüências que elas podem causar. Palavras são a materialização fiel das idéias. E como diria um personagem fictício, - por quem tenho grande admiração -, "idéias são à prova de bala", ("V de Vingança"). Palavras são à prova de bala. - Desculpem o romantismo exagerado -. E está em nossas mãos, em nossas bocas e corações o uso que faremos delas...
Bom, hoje eu tenho consciência da importância das palavras... E para mim elas são imortais, coisa que não sou. Mas quero partir me lembrando de todas que proferiram o quão importante é/foi minha – sua, nossa – existência. Na tentativa de imortalizar não a existência, mas as lembranças que nos tornaram únicos.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Devaneios oníricos.


UMA INTRODUÇÃO:

Um comentário a um texto. Um texto, um monte de palavras que já existiam, as quais pus numa seqüência que somente eu faria como fiz. Desculpe a possível confusão. Sou assim. Às vezes. Sei também ser muito clara. A propósito, eu tenho um lado, no qual eu sou – constantemente - muito “clara”. É quase inevitável. Este lado esteve comigo toda a minha vida. E por favor, não confunda a minha afirmação inicial: “Um texto, um monte de palavras que já existiam, as quais pus numa seqüência que somente eu faria como fiz”, com presunção, - não, eu posso ser tudo, menos presunçosa -. Isso, é óbvio, se foi possível entendê-la. Não o condeno por isso. Estou cônscia de que muito do que escrevo é de caráter totalmente particular, tomando, às vezes, proporções pessoais demais... De entendimento unilateral... E por isso: "somente eu o faria como fiz"... Também não faço questão de ter um leitor. Escrevo como que para alguém, mas não anseio pela leitura de outrem. Achei que seria bom ressaltar isso aqui. Parece paradoxal, pois todo escritor precisa de um leitor... Será mesmo? Pergunto-me. Se sim, sou mais que uma escritora, - e uso “escritor (a)” no sentido comum, banal da palavra, como sendo alguém que simplesmente escreve -; ao passo que, não necessito de um leitor. Mas isso não quer dizer – pois não foi o que disse aqui – que você – não importa quem – desempenha um papel inútil e frívolo. O caso é que eu só não espero a presença de um leitor por estas bandas... No momento, busco a simples exteriorização de algumas coisas que passam... Observo. Julgo. Algumas já estão intrínsecas a mim, observo, julgo e deixo passar. “Isso” são pensamentos. A causa. E, então, vêm as palavras. "Essas" são os meus pensamentos se materializando. São a matéria-prima. Elas são a conseqüência. Daí o meu texto.
A princípio, não gostei. Não sei o porquê. Por mais sinceras que tivessem sido produzidas as palavras que estruturaram o que eu acabara de fazer - um texto/redação -, houve "um quê" de rejeição. Desculpe a rima, - e todas as outras, não as tencionava! - Enfim (!) Decidi que não colocaria aqui, meu texto. Mas, depois de relê-lo e escutar uma perspectiva diferente, comecei a vê-lo com outros olhos. Peguei-o numa perspectiva mais... sei lá. Também não sei o porquê. Só sei que o vi com uma perspectiva que não tão grotesca como tinha concluído inicialmente.
Também não sei ao certo qual gênero literário deveria alcunhar o meu texto. Dizem que é o autor quem escolhe. Ponto. Chamei-o de "crônica", não obstante a crônica tem relação com a idéia de tempo e consiste no registro de fatos do cotidiano. O que não se enquadra com o meu texto. Acho até que há nele predominância de anacronismo. Porém (!) há pontos em que poderia entrar no perfil de "crônica lírica", pois narra com nostalgia e sentimentalismo... Definitivamente, não domino bem as sutis diferenças entre determinados gêneros literários!
De qualquer forma, ao compulsar melhor sobre outros tipos literários - tipo: gênero. Muitas repetições aqui! -, pude encontrar suficiente identificação com o gênero "conto", por sua subjetividade, descrição pormenorizada de emoções... Tudo bem, que é deveras um conto minutíssimo! Mas não encontro algo mais satisfatório. Denominações literárias é a pedra no meu sapato.
UMA INSPIRAÇÃO (IN)CONSCIENTE:
Acredito na Teoria da Intertextualidade, a qual afirma que não existe um só texto que não tenha inerente a ele outro texto. Um resquício. Um conceito. Esta é a palavra-chave: Conceito.
A inspiração é uma conseqüência do impacto que determinadas coisas lhe causam. Elas ficam. E há uma que está em mim ultimamente:
“A Menina que Roubava Livros”... Desde que o li, tenho um novo conceito sobre a morte... E conseqüentemente, sobre a vida, dentre milhares de outras coisas, sobre as quais espero voltar a falar, mais tarde... Já que estas me acompanham em tudo o que escrevo.


Devaneios oníricos

UMA PERSONAGEM:
Uma menina.
Ela sonhava naquela noite. Um sonho quase consciente. Úmido. Quente. Era uma noite fria.
Gélida. E suas mãos tremiam. Começara a chover de leve. Lentamente caiam as gotas d’água. Logo, alcançaram-na. Corria-lhe as maçãs do rosto. Eram quentes. Tocaram-lhe os lábios. Era salgado. Um gosto conhecido. Comum. Maldita chuva. Relutante. Por que, Deus, sentia tudo do modo como sentia? Céus, tudo tão forte em seu peito. Úmido, queimava-lhe. “Coração não sente! Coração só bombeia sangue! Só!”... Por que, então, começara a ouvir tambores em meio à chuva salgada e quente? ...seria um ritual inusitado?... Malditas batidas! “Tum tum tum”... Chegavam a seus ouvidos, enlouquecendo-a. Ela nunca gostara daquelas batidas. Insistentes, Intrometidas. O céu embaçara de repente... Seriam as nuvens? Aquele céu... Aquelas estrelas... Produziam-lhe uma sensação inefável... a deixara embasbacada...mas agora mal conseguia contemplar aquele espetáculo de luzes...A chuva começara a cair com mais intensidade. Trovões. Luzes. Havia nuvens demais, brumas cobrindo seus olhos. Nuvens. Gotas salgadas. Em verdade, eram mais filetes aquosos do que gotas. Eterna umidade. Sua face – estúpida – encharcara. “Caminhe”. Foi em direção ao mar. “Suas palavras não fazem sentido.” Mergulhe então. Tambores. Encontraram- na, mais insistentes do que nunca. “Coração só bombeia sangue.” “Então se livre dele se não gosta das batidas.” Não eram batidas de júbilo. Jaziam intermitentes. “Caminhe para o mar e deixe estar...” Agora sentia aquela água todo fugaz... Salpicava-lhe os lábios... que figura grotesca formava aquela garotinha, numa noite tão linda, e tão fria...Que lúgubres olhos, outrora reluzentes, agora tão embaçados. Opacos.
UMA NOVA PERSONAGEM:
A Noite.
A Noite sussurrava-lhe: Sente as batidas? Elas são você. Elas lhe dizem o que fazer. Elas a norteiam. E você esteve relutante. Mas aqui, nos seus sonhos, eu digo o que verás. O que sentirás... Um sabor dulcíssimo... Você sabe, você já o sentiu não é? O sabor doce também acompanhou as batidas... Você até sorrirá. “Não cederei.” Não adianta. Quando essa sensação chegar sentirá felicidade. “Golpe baixo.” Já viu alguém resistir a uma tênue sensação de felicidade? “Não.” Não. “Injusto.” Confusa. Fite o mar e veja seu reflexo, há um sorriso. “Mas me sinto afogar!” “Como posso sorrir se estou enlouquecendo com estes sons cacofônicos?” “Como me sentir feliz se minha razão torna-se inaudível?” A Noite não respondeu. Emudeceu. “Sinto tudo tão causticante e você me fala de felicidade. Sinto essas batidas patéticas.” “Alumbro-me, e percebo uma débil sensação doce. Fecho-me, estou segura, mas sinto o sal, quente e molhado. Torpor. Completa inércia moral.”

DUAS PERSONAGENS E UM DESFECHO:
Tempestade. O céu parece arrebentar. Mas a Noite jazia imóvel. Frígida. E a garota também. “Sinto-me...” A Noite interrompe. Não entendo por que vens exaltar-se comigo. Protestas do que sente? Então reclamas de estar viva... (?) Se este é o problema, vá exclamar à Morte. Esta infeliz que já tem problemas demais, pobre coitada. Tantos humanos queixam-se da dor. Procurando culpados. Vociferam da mais pura sensação de viver, enquanto a Morte carrega todas essa almas frias. Tentando inutilmente aquecê-las, ao passo que, os que sentem o ardor queixam-se, buscam a inexpressão. A impassibilidade. A morte de seus fragmentos que os tornam vivos. Garota, não reclame desta umidade cálida em sua face. Desconfortante. Pior é uma face inútil e fria. Agora, acorde e agradeça ao Sol, pois conheço a ingratidão humana. Nunca agradecem a mim. No mínimo, ao Sol, que os fazem sentir o calor. Ignoro a razão disto. Deveriam agradecer a mim. Sou eu quem mostra que o calor que sentem não vem daquela esfera eterna de lume. Não. Do contrário, não estaria lastimando-se paradoxalmente da Noite álgida que sou... Dessas batidas calorosas e grotescas. Que os perturbam. Este calor infindo vem de você mesma garota estúpida. Das suas lágrimas capazes de enublar-me! Acorde e veja por si mesma o quão transpira, só por causa de um sonho, uma Noite sonhada, algumas lágrimas e outras batidas, intermitentes. Serão assim, enquanto jazer com vida.


sexta-feira, 17 de abril de 2009

A história explicada...






"Há uma história aqui."


Vou lhe contar...
"Enfim,
 Nu,
 Como vim"

do poeta Paulo Leminski, é um Haikai, Haiku ou Haicai. É uma forma poética que consiste em três linhas, de origem japonesa que valoriza a concisão e a objetividade.



UMA INTERPRETAÇÃO:
- Uma pequena observação de caráter personalíssimo. -
Há uma verdadezinha. Um fato. Irrefutável. Você e eu morreremos. E sinceramente, não entendo o porquê de esse evento ser visto como algo tão funesto. Como já citei, trata-se apenas de uma eventualidade. Inevitável. Uma passagem, na qual esforçamo-nos para compreender a própria existência. Buscamos a resposta. Ansiamos pela comprovação. Alguns olham para as estrelas, outros encontram conforto nas coisas mundanas. Há aqueles que preenchem-se com a aprovação alheia. Seja esta na proporção da inteligência, seja na proporção da beleza, o que nos impulsiona é o motivo. Isso é “o quê”. Depois vem “o como”. Como partiremos? Descalços. Desataviados. Mortos. “Do pó viemos, ao pó retornaremos.” Despidos chegamos. Despidos partiremos. Enfim, nus, como viemos.


p.s.: Imagem (primeira): "Pietà" - em português "piedadade" - de Michelangelo é talvez a mais conhecida e uma das mais famosas esculturas feitas pelo artista. Representa Jesus morto nos braços da Virgem Maria.

sábado, 11 de abril de 2009

Desvelos, folhas, e algumas palavras, secos.

“Perdoa-me, folha seca,não posso cuidar de ti.Vim para amar neste mundo,e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores pelas areias do chão,se havia gente dormindo sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!Choro pelo que não fiz.E pela minha fraqueza é que sou triste e infeliz.Perdoa-me, folha seca!Meus olhos sem força estão velando e rogando àqueles que não se levantarão…Tu és a folha de outono voante pelo jardim.Deixo-te a minha saudade - a melhor parte de mim.Certa de que tudo é vão.Que tudo é menos que o vento,menos que as folhas do chão…”
(Canção do outono - Cecília Meireles).







Odeio sair por aí quebrando as coisas... Eu sou realmente desastrada... e às vezes acabo quebrando algo de valor....material ou sentimental...de outras pessoas...é totalmente frustrante, tirar algo de alguém... é frustrante quebrar suas próprias coisas porque você não pôde mantê-las “vivas” por algum tempo!... “vivas” ao seu lado. Eu realmente tenho observado o quão tempo duram certas coisas perto de mim... não tenho nada de longa data. É quase uma habilidade ver as coisas desaparecerem na minha frente. Já sequer confiam em mim por isso. Conseqüência. Não os culpo. Tentei levar essa visão para além das “coisas”... bom, não gosto de generalizar, mas percebi uma semelhança. E cheguei à conclusão de que talvez eu seja desastrada em todos os aspectos da minha vida. Pois sempre me pergunto porque eu não fiz de outra maneira. Ou se teria sido diferente se eu fosse mais cautelosa. Comedida. Eu não sei ser outra que não essa. Que se mostra desatinada. Que se reflete estouvada. Quanto tempo levará se... durará se... eu deveria... “se”, “se”... Já ri muito da minha imprudência, e já fiz outros rirem também... mas foi até eu chegar aqui e me dar conta de que cuidar faz-se necessário. Zelar por aquele que se ama. Eu sei amar, mas quiçá não saiba mantê-los. Eu prometi por canção que cuidaria. Não cumpri. Tentei? Não sei. Não durou tempo suficiente. E provavelmente nunca venha saber...



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“Cuidar” - Luana Lins

Zelar:

Fazer permanecer. Não permitir quebrar. Ou cair ao chão, ou tornar-se fugaz.

Manter:

Proferir afavelmente em uma única palavra com a qual tenha inerente todos os efeitos que tornem imperecível aquilo que se ama.

Durar:

Não deixar partir, fazendo-se desnecessária a relutância, pois aquilo que se acalenta, fica, incondicionalmente.

-- Uma interrupção--

Há uma ponta de frieza aqui. Um resquício de ironia. Uma receita. Inútil.
Não me identifico com esse sintagma.

“Zelar”.
“Manter”.
“Durar”.

São palavras férteis que se proferidas por mim, tornar-se-iam secas? Ressequidas em minha boca, em meu descontentamento. Pútrida na minha aquiescência desastrosa. Conformo-me. Emudeço.
Não culpo os outros pela dor. Foram estes pensamentos que trouxeram-me para onde estou neste momento.
Suas escolhas são unicamente responsáveis por seu sofrimento moral.
Secas jazem em minhas mãos, estas folhas, estas palavras, que digo em silêncio, intrépida, mas não as bradarei jamais.
Não tenho uma solução, tampouco cuidado, tudo o que tenho são folhas secas, paradas no chão, e talvez levadas pelo vento, mas ainda assim, seriam só palavras.




quinta-feira, 9 de abril de 2009

"Em que espelho ficou perdida a minha face?"





Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro,nem estes olhos tão vazios,nem o lábio amargo.Eu não tinha estas mãos sem força,tão paradas e frias e mortas;eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança,tão simples, tão certa, tão fácil:Em que espelho ficou perdida a minha face? (Retrato - Cecília Meireles).




Outro dia, estava eu na aula de Redação, absorta em meus pensamentos, e a professora nos pediu para ler certa proposta de redação. Devíamos elaborar um texto de caráter descritivo, a partir da obra literária da Cecília. Digo "obra literária" porque nunca sei a diferença empírica entre poema e poesia. Sei que a linha que separa ambas é muito tênue. Dizem que poesia tem caráter do que emociona, toca a sensibilidade. Tem como função sugerir emoções por meio de uma linguagem. Já o poema sendo a obra em verso em que há intrínseca a poesia. Bom!Independentemente da "alcunha literária" dada a obras como a de Cecília, gosto de observar o efeito que cada uma delas tem sobre mim. Perceber sua intertextualidade. "O que isso me diz?" " O que leio me descreve?"... Não sou ninguém para mensurar o quão bom é um poema/poesia dos gênios da literatura, mas pessoalmente, julgo aquilo que leio, não pela sua métrica, pela ausência ou presença de rimas, pelas palavras rebuscadas etc. Eu aprecio pelo nível de identificação. Pela nitidez do meu reflexo, produzido pelo o que eu li.
Enfim!Depois de tanto procrastinar (!) digo que fiz a proposta de redação na tentativa de responder/descrever "A face perdida no espelho". Na minha perspectiva. Que não se distancia tanto ao do "Retrato", porém, escrevi tentando descobrir não onde estaria minha face perdida, mas sim, o que seria a minha face perdida no espelho.


"O lado funesto da face perdida " - Luana Lins

"Insensato, eu sempre tive este rosto,
taciturno, quase mudo.
Eu sempre escondi meus olhos,
secos e incrédulos,
que manifestavam com desdém,
certa impassibilidade.
Vislumbrava agora, os olhos que
outrora lacônicos, proferiam mais que mil palavras,
as quais recônditas, se revelariam ali.
Enquanto perdida nos meus traços patéticos,
procurava uma definição que simplificasse a minha face.
Os olhos confusos estavam relutantes...
"Será multifacetada?"
A face perdida, - ou as faces? - há de ser encontrada...
então, os olhos, agora prolixos,
desvelar-me-iam que minha face perdida,
é nada, além de minhas próprias palavras, insensatas."






p.s.: Imagem baseada n'O Fantasma da ópera'.
p.s.: Claro que fugi totalmente – tolamente - `a proposta, já que fiz o texto em versos, não em prosa.