quarta-feira, 6 de abril de 2011

Epigrama.

Rumava sempre para um caminho deserto,
O seu destino era a solidão.
Eterno companheiro, o vento, decerto,
Carregava-o na sua seca mão.

O seu destino era a solidão,
Rumava sempre para um caminho deserto,
Carregava-o na sua seca mão,
Eterno companheiro, e o vento, decerto.

O seu destino era a solidão,
Carregava-a na sua seca mão.
Rumava sempre para um caminho deserto,
Eterno companheiro, e o vento, decerto.

Rumava sempre para um caminho deserto,
Carregava-o na sua seca mão.
O seu destino era a solidão.
É terno companheiro, o vento, decerto.

Tinha longas conversas com os sibilos dos ventos que timidamente passavam pelas frestas das fenestras e das suas portas postas fechadas.  - Vento, se és da cidade, do mar, do deserto, se és seco ou duro, se és terrenho ou travessão, brisa ou corrente,  és sempre, de qualquer modo, companhia fina e impalpável.- Deitava a cabeça na relva e recebia o seu áspero carinho – sentia tudo tão pungentemente! -. Recebia sábios conselhos de suas melhores amigas: As árvores. Alimentava-se de sua seiva e de suas raízes, arranhava escrevendo em seus troncos atrozes toda a história de sua dor sufocante que eternizaria no súber, desgraçando o líber – puellae liber - livro desditoso. As unhas suberosas eram os algozes, o súber, vítima, e o líber, testemunha.
Comia as várias flores – girassóis, amores perfeitos e narcisos, chuva de prata, copo de leite, boca de leão e tango, que guardou para mais tarde. Mastigava-as e as engolia num delito contra a sua própria natureza humana – essa que tende a ser consumida pela beleza, sem jamais consumi-la. Na hora sexta do dia, descansava a cabeça no musgo e fitava o céu, momento em que seria ignorada pelos pássaros. Fora repelida de seu bando de albatrozes, porque insistira ardentemente em ir a terra para confabular com os humanos – não há blasfêmia maior do que um pássaro no chão. De que serve um pássaro no chão? - então, foi aí que teve suas asas quebradas. Agora, condenada a essa ignóbil dualidade – pássaro sem asa/ humano inanimado – entregava a sua alma presa na sua tosca condição corpórea às criaturas rochosas e, num futuro cada vez mais próximo, entregaria seu corpo às profundezas da terra para que, enfim, a sua alma voltasse a voar livre no seu lugar de origem – de onde nunca deveria ter caído – o céu. 

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