quinta-feira, 30 de abril de 2009

Um fato supracitado.




Eis a minha válvula de escape. Semi- aberta. Permitindo a ligeira passagem de uma matéria. Ela não é líquida. Não é gasosa. Nem sólida. Creio que possua um comportamento irregular. Ora líquida, ora gasosa. Ora sólida. Ora lacônica, ora prolixa. Redundante. Por vezes, todos os estados. Às vezes dual. Intrinsecamente arbitrária... Nunca se sabe...



Certo dia, estava perdida em meus pensamentos... Fitando o horizonte. Mas não o que jazia em minha frente. Vislumbrava algo mais colorido. Estava no meu momento de projeções. Vou explicar o que são as minhas “projeções”. Eu tenho uma teoria. Não tão minha, visto que já existe. E milhares de pessoas no mundo, – ainda assim poucas -, a adotam como uma filosofia de vida.
Segundo a teoria, minha, - nossa -, podemos concretizar todos os nossos pensamentos. É como se em algum lugar seus desejos são registrados e encaminhados. Mas é preciso acreditar neles, acreditando, a priori, em você mesmo, é claro.
E bom, eu estava no meu momento de imaginar. Sim, imaginar. Simplesmente debruçando-me sobre uma multidão de possibilidades. Oportunidades. São tantas. Daí, eu percebo o quão opulento o mundo é. Encaixam-se quase que perfeitamente. “Posso ser tudo.” “E posso ser nada.” Depende do que os meus pensamentos projetam. Para onde me levam. Já disse aqui que palavras é a materialização de tudo – ou quase tudo – que se passa em nossas mentes. É claro que há pessoas que transformam ao oposto estas torrentes de idéias. Deturpam. Por vários motivos... Por não terem a simples capacidade de exercer sua própria franqueza. Ou porque de fato não é conveniente, já que a verdade às vezes torna-se um utensílio empedernido. Laborioso. Que fere. Mas não entremos em pormenores quanto às questões de “verdade genuína”. Voltemos a uma verdade mais agradável. A verdade que criamos para nós antes mesmo de ela se tornar real. Essa verdade doce. Impalpável. Mas conveniente. E quer saber de uma verdade surpreendente? Os pensamentos se materializam muito além do que só palavras. Então, pense. Por mais absurda que pareça a idéia, aceite-a. Imagine. Eu sempre fiz isso. A minha vida toda eu imaginei. Depois vivi. Vivi e imaginei. Sonhava acordada. Ainda o faço. E muito. Mais do que deveria. Outro dia, uma amiga disse-me que sou muito distraída. Que percebo quase nada. Um short. Um comentário. Até mesmo um grito. Este último, provavelmente porque estava de fones de ouvido. Em outro mundo. Quanto aos outros há uma explicação. Eu realmente não observo tudo. Disse a ela o que já disse aqui. “Observo tudo de um pouco. Distraidamente.” Parece-me mais emocionante. “Reparar as cores. Depois os humanos”. Notar o que observam. Mas a maior parte do tempo eu estou imaginando. Projetando-me. Em vários lugares. Em outras histórias. Outras personagens. No fundo, somos todos personagens. Muitas vezes representando. Ou sempre. Se fôssemos aquilo que somos em essência, seríamos estranhos. Seríamos várias facetas em um só instante. Não acredito que isso nos torne menos verdadeiros. Não. Simplesmente não ouso afirmar que somos constantes. Uniformes. Pois entraria em paradoxo com algo que somos irrefutavelmente. Complexos. Assim como nossas mentes e anseios. Estou satisfeita com a minha vida, mas é quase incontrolável a minha necessidade de imaginar. Eu paro para tal. “Licença, vou ler um pouco.” Ligo a caixinha de músicas. A caixinha que me torna hermética. Qual torna tridimensional todas as minhas estórias. Talvez possa parecer que sou um tanto arrogante. Alheia demais. Que não gosto das pessoas. Serei excessivamente sincera. As pessoas são quase como as palavras. As amo e as odeio. São materializações. Somos mil páginas a ler e decodificar. Não obstante, podem tornar-se dissimuladas. E pior, podem jogá-lo em uma teia de mentiras e incitá-lo a fazer parte desta representação, pérfida. Claro, que sou como todos. Não me excluo deste todo. Talvez seja eu quem não é capaz de se esquivar de todas as idiossincrasias destes que se mostram para mim. Absorvo-as? Não sei. Talvez seja uma inegável inabilidade de entendê-las. Porque não me entendo? Provavelmente. Ou simplesmente incapacidade de conter-me. Não amá-las tanto, tornando-me vulnerável. Suscetível a decepções. Desde aí faço da distração as minhas férias de toda a complexidade de que as pessoas são providas. E desta distração veio um labor, contraditório. Agradável. Reflexões. Íntimas e silenciosas. Todas em minha mente cantam em uníssono. Disse “contraditório”, pois há um conceito de distração: “irreflexão, divertimento,” dentre outros. Mas quando cito “distração”, refiro-me a desatenção daquilo que faz parte do externo. Neste momento, eu não noto as cores. Nem as pessoas. Mas sujeito-me a visão dum caminho. Um caminho que percorri. Que percorrerei. Sou uma mera transeunte que procura veredas. Passeio sobre meus pensamentos. Inclino-me sobre as possibilidades supracitadas. E então faço a escolha. Independentemente desta escolha, sei que vale a pena esquecermos um pouco do mundo que nos cerca, e pararmos para fitar o nosso mundo. Talvez assim, tomemos para as nossas vidas, decisões mais sapientes. Não aquelas que seriam as convencionais. As decisões correntes. Não, não, não. Não siga a corrente. Não se prostre diante das dificuldades, elas vêm primeiramente de seu interior. E nunca volte. Sim. Foi pensando todas essas coisas, uma noite antes de dormir, que cheguei a esta conclusão. Seguir em frente é essencial. Já vi muitas pessoas pararem. Nenhuma objeção, contanto que seja uma breve estacionada para uma manutenção oportuna. Mas voltar... Não. Pois a vida é só uma passagem. Fugacíssima. Pois retroceder não é seguir contra a corrente. É simplesmente percorrê-la mais uma vez, inutilmente.

Voltar...  


Por que não voltar?
“Porque eu passei devagar demais por todo esse caminho...”
Por que não voltar?
“Por que já passou...”
“Sigo em frente...”
Por que não voltar?
“Porque as horas não voltam.”
“Porque o ponteiro do relógio pode até passar pelo mesmo ponto duas vezes. Mas ora de dia, ora de noite.”
Porque não voltar?
“Porque já fiz pausas demais... E ainda tenho todo um caminho para seguir em frente.”
Por que não voltar?
“Porque o tempo é incessante.”
Por que não voltar?
“Porque as lágrimas secaram, mas sequer uma voltou.”

“Não posso voltar...”

“Porque meus cabelos não decrescem, minhas rugas enlouquecem, meus olhos enrobustecem, meus cílios envelhecem, minhas unhas entorpecem. E quero retroceder todos os pesares mil vezes sem que estes nunca cessem.”

“Por que não voltar?”

“Porque é rima demais. Porque é repetitivo. E não faz sentido.”


Escutando: John Mayer – “Daughters” etc...

Um comentário:

  1. Luh...amei o texto!! de verdade!!!

    Adoro!!

    Além de amiga, sou sua hiper fã!!!

    Beijos

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