segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Plenilúnio.

"Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida(...)
tenho outras de ser sozinha
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia, o outro desapareceu..." (Cecília Meireles - Lua Adversa)



  O sono queima a beira do dia
Quando acordo já é noite
Uma noite claramente sombria
O luar soturno é como um açoite
À sensibilidade da minha’lma atormentada
Que zela subserviente pela lua tão distante e iluminada!
Tão branca assaz exangue.
Morre dia a dia
Preenchendo meus pulsos de sangue
Para nascer em mais uma noite fria
Circunspecta em sua algidez
Sabes bem que é protagonista na poesia 
Passo noite em claro para contemplá-la mais uma vez
Fita-me ela cheia de brio
Sabes que sua beleza guarda a virtude
Sua imagem captura-a até o rio!
Desce do céu – esperança-se o rio – inexaurível em plenitude
Mas vejo mãos truculentas alcançando-a
São nuvens precipitando-se sobre a lua, outrora nua
Querem a sua grandeza, a sua forma luzidia
Apaixonam-se as sombras algozes!
É a lua grande alcoviteira
Sob sua luz iludem-se os jovens corações atrozes
Transborda-os de melancolia beira a beira.

  

E eis que nasce um novo dia
Queimando o plenilúnio
E enquanto o admirador se alumia
Guarda a clara certeza da renovação
Imanente entre cada declínio lunar e cada ascensão solar

(Luana Lins)





p.s.: UM POUCO DE METALINGUAGEM:

Dessa vez, as rimas foram deliberadas.
Não gosto de alcunhar nada do que faço de “poema”, pois não me considero “poetisa”. Não costumo arriscar esse ritmo de escrever – poético -, já que, admito, sou medíocre nesse tipo de composição. Talvez eu o chame, portanto, de canção. Uma canção que, no entanto, não possui uma melodia.
Escrevi – a canção – depois de passar um dia dormindo e acordar no seu fim. Isso sempre me frustra de alguma forma. Talvez seja a pungente sensação de perda. Resolvi, pois, escrever sobre as circunstâncias do dia e da noite, as impressões lunares... Gostaria de, contudo, delinear a linha tênue que separa o dia da noite. É tão simples, mas tão impressionante! Todos os dias, esboçado no céu, há um efêmero momento de transição, que pode ser visto como morte ou restauração, do tempo que passou, ou do porvir: O lusco-fusco, o poente. Esse momento do dia sempre me deu um pouco de melancolia. Essa, porém, é a primeira vez que materializo tais impressões.


2 comentários:

  1. Lu...amei. Simplesmente amei.

    Cada dia melhor. Adoro ler seus textos e perceber o quanto sua escrita vem melhorando cada dia mais. Perfeito o texto. Perfeitos os termos. Perfeito o sentimento nas esntrelinhas.

    Parabéns.

    =)

    ResponderExcluir
  2. Realmente adorei ler a postagem. Fiquei um tempo fora e demorei pa ler novos blogs, e gostei muito do que li. Muito bom!

    ResponderExcluir