sábado, 16 de janeiro de 2010

Quando a infância acaba...

A vida era um conto arquitetado por uma mente pueril
As fadas ainda estavam lá, até a sua primeira mágoa
Os carrascos da verdade lhe mostraram, afinal, o vil
A desilusão vertia-se, agora, num rumo que lancinantemente deságua
As criaturinhas sumiram nas últimas badaladas
A pequena já conhecera o mal nas fábulas
Os Grimm e nanquins escreveram as ciladas
Gigantes, bruxas, príncipes e tábulas
Idealizações a invadiam desde quando usava meias de cetim
Laços e abraços no balanço da árvore outonal
Ali, ela girava num mundo de personagens singulares e histórias sem fim
Raptava vaga-lumes na noite celestial
À meia-noite deitava a cabeça no travesseiro
Rabiscava tacitamente os traços do ser encantado
Nos sonhos planejava para si, um amor derradeiro
Mas no fundo sabia, logo tudo estaria enterrado
Abandonaria Brontë para ver o jovem Gregor acordar metamorfoseado
Transbordaria de verdade o seu novo mundo
Escarnecer-se-ia das almas quixotescas
Para ver o personagem fabuloso jazer mudo
Acharia o “mocinho” uma invenção burlesca
Não mais seguraria sapos na mão
Derramaria nos olhos, o cinza dos céus
Tornaria ímpio o próprio coração
Feras, barbas azuis, trevas e mausoléus
Fariam parte de um mundo deixado para trás.

Matou seus heróis fantásticos
Para crer nos verossímeis...



Ouvindo: Paramore - "Brick My Boring Brick" / "The Only Exception" 

Um comentário:

  1. De fato, ficarei de olho sempre em novas postagens tuas. Versos desencatados e pessimistas, pontos de vistas que merecem mu olhar atento.
    Detalhe: Nunca ficaria incomodado de alguém ter adicionado o meu blog ao favorito, muito pelo contrário, agradeço.

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